Era um rosto que carregava uma expressão de dor sem fim. O sofrimento e a miséria já deixavam marcas bem antes da vida o carregar de tal fardo. O mundo, que era aquilo tudo que saia dos domínios do corpo já estava destinado a assombrá-lo desde antes de entender o que era ser aquilo que ficava do lado de dentro daqueles olhos grandes e sombracelhas arqueadas.
Seu nome era uma daquelas grande irônias da vida, Felício dos Prazeres era tudo menos feliz. Era possível dissertar e criar categorias diversas pro sofrimento só de analisar superficialmente a vida do pobre coitado, mas não dava pra escrever nem uma linha sobre prazer.
felício, morava com mãe e dois irmãos. Metade pra não ouvir mais a mãe reclamar que não fazia nada e metade porque era o que se esperava que fizesse arrumou um serviço como favor de vereador importante. Na verdade nem tão importante assim, se chamava Juca da pipoqueira. O nome do emprego dentro de felício era varredor de chão, mas pra fora preferia o que considerava mais pomposo e de importância: Auxiliar de Serviços Gerais.
felício, morava com mãe e dois irmãos. Metade pra não ouvir mais a mãe reclamar que não fazia nada e metade porque era o que se esperava que fizesse arrumou um serviço como favor de vereador importante. Na verdade nem tão importante assim, se chamava Juca da pipoqueira. O nome do emprego dentro de felício era varredor de chão, mas pra fora preferia o que considerava mais pomposo e de importância: Auxiliar de Serviços Gerais.
-ôxiliar de serviço gerais, ôxiliar de serviço gerais. mas o que é que isso faz, ô felício?
-poquin de tudo, não disse.
E assim, sem nenhuma maiuscula, tratava de mudar de assunto
Não era sujeito de traquejo social, era daqueles que quando tinha folga não saia do boteco da esquina, metade porque era o se esperava que fizesse e metade por que ali era a única forma que conhecia de fugir da própria vida.
Sem ninguém que pudesse chamar amigo, felício ria de todas as piadas que faziam do seu rosto triste quase cômico, metade por que não entendia o que diziam e metade por que era o que se esperava que fizesse. Não se podia dizer que era uma pessoa má, mas também não poderia se dizer que era bom. O mais justo, se é que se tem justiça no que se proseia cá, era dizer que o sujeito era nada.
Sem ninguém que pudesse chamar amigo, felício ria de todas as piadas que faziam do seu rosto triste quase cômico, metade por que não entendia o que diziam e metade por que era o que se esperava que fizesse. Não se podia dizer que era uma pessoa má, mas também não poderia se dizer que era bom. O mais justo, se é que se tem justiça no que se proseia cá, era dizer que o sujeito era nada.
Numa dessas irônias da vida, eis que aparece na vida do moço Maria Aparecida. Diferente de felício a moça não tinha sido marcada pra tristeza na barriga da mãe, pois ganhou um olhar infeliz só quando descobriu que era por falta de vaga de princesa que acabou por plebéia. Não gostava de felício, mas aceitou casar com ele mesmo assim. E ele casou com ela metade porque queria sair de sua casa e a outra metade porque era o que esperava que fizesse.
Foi um dia desses qualquer, que acontecem todo dia, que felício pela primeira vez na vida cismou ter direito de reclamar da dor de dente que sempre tivera, sabe se lá Deus porque, no trabalho. O chefe, depois de argumentar com aquela razão simples e sem sentido de quem acha que tá sempre sendo passado a perna com um "mas você nunca passou mal antes", viu que era por bem liberar o sujeito mais cedo.
Pois que só assim que felício descobrira a sujeira que vinha acontecendo na sua própria cama há alguns meses. Pois que a família da Maria vinha acobertando a sem vergonhice da moça que arrastava, vejam só, Juca da pipoqueira todos os dias, depois do almoço para a própria cama. Se a família da moça sabia, era porque desde que felício e Maria tinham se casado, moravam em puxadinho.
.............
Felício naquela hora se decidiu sujeito. Batendo em tudo que era tudo que via pela frente, enquanto o Juca confundia ziper com botão, entrou no quarto com uma faca de pão e desceu o braço no passivo. Era sangue em cama, lençol e travesseiro.
Foi encontrado pela polícia no bar todo ensanguentado. Ninguém ria dele.
.............
Felício na hora se decidiu sujeito. Como se nada estivesse acontecendo, passou sem quase fazer barulho, coisa que sabia fazer muito bem, mergulhou as roupas dentro da mala e foi se embora catar um dentista e uma vida que fosse pra si mesmo, exatamente nesta ordem.
Diz-se por ai que virou pastor cristão, que vem arrebanhando ovelhas pra Igreja do Santo Milagre do Amanhecer. O vereador está no seu terceiro mandato, com seus três filhos e sua esposa, dona Suelly das Dores. Da Maria Aparecida não se sabe mais.
.............
felício olhou aquilo tudo e ficou sem saber o que fazer. Em um dos seus primeiros momentos de clareza entendeu que aquilo era culpa sua. Pois que não deveria ter chegado em horário que não se esperava que chegasse.
Foi pro boteco da esquina e até hoje fica rindo das piadas sobre si mesmo. Metade porque não as entendia e a outra metade porque só assim esquecia de si mesmo.
Eu tinha começado esse texto há muito tempo mesmo. E agora catando uns escritos mais antigos decidi, por bem, terminá-lo. Não sei se atinjo meu objetivo inicial com ele, mas fico feliz por ter conseguido terminar um texto mais antigo abandonado.
Não são com todos que consigo fazer isso.
=)
Foi um dia desses qualquer, que acontecem todo dia, que felício pela primeira vez na vida cismou ter direito de reclamar da dor de dente que sempre tivera, sabe se lá Deus porque, no trabalho. O chefe, depois de argumentar com aquela razão simples e sem sentido de quem acha que tá sempre sendo passado a perna com um "mas você nunca passou mal antes", viu que era por bem liberar o sujeito mais cedo.
Pois que só assim que felício descobrira a sujeira que vinha acontecendo na sua própria cama há alguns meses. Pois que a família da Maria vinha acobertando a sem vergonhice da moça que arrastava, vejam só, Juca da pipoqueira todos os dias, depois do almoço para a própria cama. Se a família da moça sabia, era porque desde que felício e Maria tinham se casado, moravam em puxadinho.
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Felício naquela hora se decidiu sujeito. Batendo em tudo que era tudo que via pela frente, enquanto o Juca confundia ziper com botão, entrou no quarto com uma faca de pão e desceu o braço no passivo. Era sangue em cama, lençol e travesseiro.
Foi encontrado pela polícia no bar todo ensanguentado. Ninguém ria dele.
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Felício na hora se decidiu sujeito. Como se nada estivesse acontecendo, passou sem quase fazer barulho, coisa que sabia fazer muito bem, mergulhou as roupas dentro da mala e foi se embora catar um dentista e uma vida que fosse pra si mesmo, exatamente nesta ordem.
Diz-se por ai que virou pastor cristão, que vem arrebanhando ovelhas pra Igreja do Santo Milagre do Amanhecer. O vereador está no seu terceiro mandato, com seus três filhos e sua esposa, dona Suelly das Dores. Da Maria Aparecida não se sabe mais.
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felício olhou aquilo tudo e ficou sem saber o que fazer. Em um dos seus primeiros momentos de clareza entendeu que aquilo era culpa sua. Pois que não deveria ter chegado em horário que não se esperava que chegasse.
Foi pro boteco da esquina e até hoje fica rindo das piadas sobre si mesmo. Metade porque não as entendia e a outra metade porque só assim esquecia de si mesmo.
Eu tinha começado esse texto há muito tempo mesmo. E agora catando uns escritos mais antigos decidi, por bem, terminá-lo. Não sei se atinjo meu objetivo inicial com ele, mas fico feliz por ter conseguido terminar um texto mais antigo abandonado.
Não são com todos que consigo fazer isso.
=)
3 comentários:
Você está escrevendo absurdamente bem! Cada vez melhor, mocinho! =)))
Ainda bem que o msn avisa quando vc atualiza: um pouco de arte para o meu dia!
Parabéns mesmo!
=***
Palmas!!!
♥amo♥
Felício desencontrou metade de si mesmo.
:) Amei este jeito todo do texto.
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