O burguesinho da classe média gostava de conversar.
Dizia ao seu companheiro: "Caro, amigo, pois aconteceu dos meus tempos de mocidade serem de tamanha preocupação. Lembro-me como se fosse hoje. Meu pai sempre me dizia a dura realidade: 'Se não passar em vestibular não vai ter oportunidade de ter ensino superior.' Lembro-me da angústia que passei naqueles tempos. Felizmente o melhor aconteceu e agora posso ter esperança em um futuro digno."
-"Tempos duros, companheiro", dizia o seu amigo, como que assentindo para que o amigo prosseguisse o que dizia.
Sabia que ele gostava de conversar.
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O mendiguinho sem nome, de classe social não percebida no Nielsen, gostava de se expressar.
Dizia ao seu companheiro: "Lembro-me da única coisa que meu pai disse que fez algum sentido na minha vida: 'Sobrevive, ou irá morrer.'"
Iria continuar dizendo: "Na época ele era muito maior que eu, mas nada que um caco de garrafa na barriga e a escuridão nos olhos não resolvam", mas seus dentes estavam ocupados demais enterrados nos tendões da perna do amigo, que tivera que matar quando percebeu estar com fome.
O amigo, obviamente, não disse nada.
5 comentários:
Oi,
Obrigada pela visita.
Vim rodopiar no seu mundinho, voltarei para ler com calma.
Só de ler Rio de Janeiro já gostei. E fiquei a rodopiar mais ainda. rsrsr
Belo conto! Entre tantas e tantas diferenças sociais e culturais, a FOME é algo que nos une!
Abração
Para saciar a vida que morre de fome devora-se tudo, até a dignidade...
Lindos dias,
beijos
"cada um no seu quadrado"
hehehe
Chocante.
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