24.8.05

Instante momento em um tempo infinito

E pensava em amores,
Amores amados,
Amores idos,
Amores inventados,

E sorria todos esses amores. Um sorriso ressequido em tempos maltrapilhos, reprimido em cantos de uma boca conformada na monotonia da linha reta. Mesmo assim um sorriso, e um sorriso de verdade.
Vázio de significado, mas pleno de emoção. Era um sorriso sem função.
Apenas um sorriso.
E era exatamente aquela ausência de sentido que o fazia sorrir naquele momento, agora era aquela felicidade sem causa que o fazia sorrir. Um ciclo tinha se formado bombeado ininterruptamente pelo orgão que pulsava.
Pulsava para as pernas.
Pulsava para os braços.
Pulsava para a cabeça.

E que cabeça, diriam.
Chamavam de cabeça grande desde que completara os quinze anos. Não entendia e nem via tamanha deformidade naquele corpo, flagelo, magrelo que carregava a alma já a tantas luas.
Mas sorria o sorriso dos francos que não podem negar que nos olhos dos outros não podem olhar.

Aqueles olhos.
Ora verdes, ora castanhos. Ora rebeldes, olhos mutantes. Que se ajustavam, diálogavam. Se alteravam, e perscrutavam. Olhos que queriam saber, olhos que queriam olhar.
Olhar para tudo.
Olhar com todas maneiras de olhar.
Sabiam inventar, olhos sapecas. Juntavam palavras que não tinham sentido:
Arco-íris de pastel,
Sonhos com cheiro de azul,
Banhos de intenções de bicicletas.
Achavam-no bobo. Até era bobo.
Mas conhecia a manobra. Cansado. Abria os olhos!
Mas se vinha caminhão esquivava. Olha que coisa! Passou de raspão!
Mas sinceridade, não pegou não!

Sinceridade era aquela,
Não queria ruído.
Queria entender o que os outros entendiam. Falava o que sentia, perguntava sentidos. Queria partilhar sentidos. Queria direção comum. Comunicar e aprender.

E tudo aquilo, em uma gota de pingo de água.

Um comentário:

ludmilesca disse...

Olha a criança que investiga as imagens...
eu sou a criança que investiga as palavras.
misturas?
Admiramos...