26.8.08

Grande?

Era família grande. Mas era um tipo de família que só era grande porque podia pagar pelo adjetivo. Era um povo endinheirado que não gostava de nada míudo. Se perguntassem como uma família sem tio ou primo pode ser grande explicavam com toda pompa possível que era porque tinham uma longa história. Mas nesse caso longa história quer dizer que se pagou muito bem pra que alguém escrevesse em livro de capa dura um monte de causos de tempo que nem se tinha tanta certeza assim.

Mas de grande mesmo essa família não tinha nada. Gente rica não é muito boa com dividir as coisas. Essas famílias, que tem primo escapando pelo ladrão e com história tão antiga, que vira até mentira, só gente pobre mesmo tem.

Mas não é esse tipo de registro que se faz aqui... Essa é uma daquelas histórias que ficam nas entrelinhas, que a família grande em questão até pagaria pra apagar.

A família Franco Assis Albuquerque Luxemburgo, que de grande só tinha mesmo o nome, era cheia da grana, mas tanta grana que quando um menino se dizia homem, segundo suas tradições, podia escolher o qualquer coisa que quisesse ser.

Essa é a história de Pedro Franco Assis Albuquerque Luxemburgo.

Seu bisavô, Herculano Franco Assis Albuquerque Luxemburgo, aos doze anos já tinha decidido: "Quando crescer quero ser rico". Aos quinze com todas as letras, seu avô, João Franco Assis Albuquerque Luxemburgo, dissera: "Quero ser rico." E aos dezoito, seu pai, José Franco Assis Albuquerque Luxemburgo, gritara em plena festa de aniversário, enquanto contava qualquer das vantagens que só dizer o nome de família o dava: "RICO!!!!"

Era uma tradição de orgulho essa, e foi com muita apreensão que a família Franco Assis Albuquerque Luxemburgo esperava.

Doze anos, e Pedro Franco Assis Albuquerque Luxemburgo não fazia idéia do que seria;
Aos quinze não tinha muita certeza;
E a aos dezoito estava confuso.

Quando completou vinte anos, seus pais começaram a ficar preocupados, e acharam por bem pressionar o moço. Ele estranhou, -"Se era pra escolher qualquer coisa pra ser não seria melhor pensar bastante?" Explicaram que estavam só preocupados, que queriam o que fosse melhor pra ele, e que, afinal de contas, era pra decidir logo... (Como assim?)

De qualquer forma Pedro Franco Assis Albuquerque Luxemburgo perguntou se podia ser pássaro. Os pais estranharam pensando que o menino tinha ficado lelé da cuca e rapidamente criaram regras para o "que quisesse": "Quando dizemos, meu filho: Você pode ser o que quiser estamos falando de um trabalho, menino."

Pedro Assis Albuquerque estranhou, mas respondeu logo: "Então já sei!"
"Eu quero limpar janelas!"

Aquilo era esquisito por demais e a família, que de grande tinha a mãe, o pai e o avô doente com mais dois meses de vida, era só revolta. "Como assim limpador de janela?, porque filho meu não limpa nada!, como é que vou falar pras minhas amigas?, podia morrer sem esse desgosto!"

O menino explicou que achava bonito as coisas ficarem limpas e que nada o agradava mais que ver o pessoal da limpeza escolher pano, e sabão com todo cuidado... As janelas nunca ficariam sujas e um monte de gente poderia enxergar por elas, pois havai toda uma coisa bonita quando se olhava por um vidro sem mancha nenhuma.

Alguém pensou em dizer que era pro menino dizer "rico" logo e acabar com aquela palhaçada, mas perceberam, meio sem graça, que estavam muito ocupados e que aquilo poderia ser deixado pra depois.

Fato é que dois meses depois a família grande ficou só com duas pessoas. O avô falecera sozinho em um dia que os pais do rapaz estavam em viagem e Pedro Franco Assis Albuquerque Luxemburgo foi fazer aquilo que deu na telha sem perguntar nada a ninguém...

Ouvi falar esses dias, em uma dessas histórias que com o passar do tempo vai virar até mentira, que seu Pedro se tornou um limpador de janela de mão cheia. Era um daqueles que ficam pendurados em prédio, sabe? E era tão bom, mas tão bom, que ninguém nunca via sujeira, nunca mesmo. Era como se o vidro nem existisse. E justamente por isso ninguém lembrava que alguém limpava aquele mundaréu de janela. Mas o que era mais verdade que aquilo tudo é que seu Pedro teve três filhos e cada um deles teve três filhos...

Aquilo sim era família grande.

22.8.08

,momento adorável de vírgulas, adorável?, confuso, ruido?,

por que as vezes começar as coisas com letra maíuscula não é sinceridade, pode mesmo ser que não haja ponto final, se bem que pode ser que na morte... , e de fato a única coisa que existe mesmo são as pontes de vírgulas, andar com pés por vezes é complicado, não sabe?, e tudo, tudo mesmo conectado, tudo?, com os próprios pés?, onde?, confuso?, Pra onde?, não tenho certeza, mas acontece, sabe?,

,não há certeza?,

15.8.08

A última palavra

Homem: Pedra, quem tu pensas ser para com gigante arrogância pousar defronte meu caminho. Achas mesmo que pode decidir o caminho que eu, homem, devo tomar?

Pedra:

Homem: Pois não ouviu falar da superioridade de nós seres pensantes e de livre arbítrio? Que poder pensas ter tu parada ai sem ao menos perceber todo esse mundo a sua volta?

Pedra:

Homem: Tu não tem poesia, matemática ou sapiência. Nem mesmo instinto para fugir caso decidisse fazer um furo no teu ventre. Eu poderia fazer isso, não sentiria remorso nenhum. Deveria fazer.

Pedra:

Homem: Eu posso, tu sabes?

Pedra:

Homem: Pedra, por que não respondes?

Pedra:

Homem: Pedra, por que não respondes?

Pedra:

Homem: Pedra?

Pedra:

Homem:

Pedra:

Pedra:

Pedra:

12.8.08

Referência

O burguesinho da classe média gostava de conversar.
Dizia ao seu companheiro: "Caro, amigo, pois aconteceu dos meus tempos de mocidade serem de tamanha preocupação. Lembro-me como se fosse hoje. Meu pai sempre me dizia a dura realidade: 'Se não passar em vestibular não vai ter oportunidade de ter ensino superior.' Lembro-me da angústia que passei naqueles tempos. Felizmente o melhor aconteceu e agora posso ter esperança em um futuro digno."

-"Tempos duros, companheiro", dizia o seu amigo, como que assentindo para que o amigo prosseguisse o que dizia.

Sabia que ele gostava de conversar.



-----------------------------------



O mendiguinho sem nome, de classe social não percebida no Nielsen, gostava de se expressar.
Dizia ao seu companheiro: "Lembro-me da única coisa que meu pai disse que fez algum sentido na minha vida: 'Sobrevive, ou irá morrer.'"

Iria continuar dizendo: "Na época ele era muito maior que eu, mas nada que um caco de garrafa na barriga e a escuridão nos olhos não resolvam", mas seus dentes estavam ocupados demais enterrados nos tendões da perna do amigo, que tivera que matar quando percebeu estar com fome.

O amigo, obviamente, não disse nada.

9.8.08

O2

Se intitulava investigador porque queria saber daquilo tudo que não deveria. Talvez você não saiba, mas os pensamentos pulsam no cerébro como sangue no coração. Não há o que fazer além de ficar admirado e enojado com as maravilhas/armadilhas engedradas pelo corpo humano.

Mas viver é um escolher o que se pode pagar e não esquecer nunca daquilo tudo que não se pode escolher.

Chama-se aceitar.

7.8.08

Sonha criança, sonha no que não vai se realizar...

mas faz, criança. Continua e faz

Porque na vida o bonito mesmo é tentar.

2.8.08

Maturidade

Criança descobre o mundo.
[Sempre acontece isso.
E arregala os olhos.

até descobrir que azul não é vermelho é encrenca,
cheira computador e manda e-mail de sonho em refrigerante,

criança sabe nada...

Depois é que aprende que só da pra pintar em papel.
E que quem faz muito, tá fazendo pouco.

Pois que acontece.
Criança descobre o mundo.
desaprende a sorrir.

Criança descobrir o mundo é mole, mole.

Quero ver adulto descobrir ser criança,

Ás vezes eu descubro,
ás vezes deixo coberto.