28.12.05

caminho de nuvens de sonho.

Recostou-se naquela sacada de olhos, as asas doiam em suas costas.
Doiam por que eram amarradas desde há muito.
Doiam porque existiam.

Aquele escorrega de rosto era o que sobrava.
Seria divertido se não houvessem cordas em suas costas, a tentativa de fuga só fazia doer mais.

Os limites eram bem definidos pelas suas mãos e seus pés.

Tudo que era existente porque existia, tão maior do que tudo que tinha dentro do castelo si mesmo.

E a dor daquele espaço se mostrou vazio, um vazio sem nenhum sentido...
O pouco que tinha escorria.
Era em escorrega de rosto.

Sorriu a falta do sorriso.
Chorou a máscara de sorriso.

E quebrou a máscara, e foi em correnteza de lágrimas que viu o caminho.
Pedaços de máscara que foi o barco.

E foi.

Pintou o céu de nuvem.
E soprou o grito dos jovens aquela vela.

Estava com os olhos fechados.

22.12.05

Busca do ponto final monocromático

Antes era borrão de cores em fundo cinza

Em infância era um monte de lápis de cor, era laranja bonito, e azul de papai do céu, era amarelo sorriso, e vermelho de sorvete... tudo aquilo em rabiscão... Nem sentia direito pra onde iam aqueles riscos!

Era risco pra cá
E risco pra lá

Era rabisco e rascunho...
E pintava o céu, e pintava vida, e pintava sonho e pintava brincadeira

Era um montão de beleza, era vírgula, e era ponto de interrogação, Um monte de exclamação cheia de sorriso e um monte de reticências de curiosidade,

só não tinha era ponto final...

Em adulto conheceu o lápis cor de verde... Estava apontadinho e chegava a brilhar quando escrevia... Os olhos abriram, era essa a ganância:

Decidiu por escrever de reto, não queria nem curva, nem queria saber de vírgula ou de interrogação: queria dois pontos, e o feio travessão, o interesse máximo era o ponto final...

Mas de final tava longe, e a ponta do lápis quebrava, nem adianta apontar, o lápis pequenininho
ficava...

Olhou a caixa de lápis, sobrou cinza-chumbo de chuva...

Pintou a folha de céu
Aquele fundo não era mais só o fundo...
Se misturava, se olhasse de longe, dele pouco se sabia onde estava.

Momento pensado e sua materialização em luz e letras

O blog é um direito de se escrever quando se quer ou é uma obrigação de escrever sempre?

O blog é seu ou você é do blog?

(as vezes quando vejo o tempo que passou desde a ultima postagem acho que tem alguma coisa errada, mas fala sério: que bobeira...)

17.12.05

Existia ela.

,
empregava cada gota daquele corpo no esforço incenssante de fazer aquele mundinho girar em volta de seus pés,
Cada gesto, cada movimento calculado, tinha exata ciência da resposta que tinha a sua volta...

Era uma moça de propósito, nem pensar que era sem querer...

Tinha ganhado condição de deusa, e aqueles eram seus adoradores...

Era uma sensação como sem igual, sorria a percepção...

Não existia mundo, fora dela, dos sons que moviam seus gestos.

Existia ela.

13.12.05

O outro de picareta

A pessoa chorava por dentro objetos que não poderiam ser vistos. Era pior essa coisa de chorar pra dentro, era dentro dos ossos que as lágrimas escorriam e o sal presente naquela aguinha de olhos só fazia sentir dor no sangue...

Como era trabalhoso esses assuntos de criar muros.
E a pessoa se fechava em cubos de gelo... Não era como qualquer prisão aquela... O outro podia ver.

Mas era díficil ajudar uma pessoa no cubo de gelo, picaretas a faziam machucar...

E o outro, como sendo bruto usava a ferramenta maldita...

Burro era o outro, era só ficar sentado a vista da pessoa. Tentando aquecer aquela caixinha que pulsava.

E talvez o gelo derretesse...

Mas não adianta gritar. Pessoas dentro de gelos não podem ouvir...

(agora peça desculpa, seu outro!)

7.12.05

Manifesto pedinte

E tudo o que você tem que fazer é dar qualquer valor, até mesmo nada. O objetivo deste manifesto é confirmar aonde esse dinheiro será aplicado, e provar como o nosso papel é bem definido na sociedade.

Temos a função de tornar vidas melhores! Quando vocês estiverem passando por grandes problemas, estiverem deprimidos, tristes. É só sair pelas cidades! Temos agentes que ficam andando pelas ruas das cidades em todas as horas. Quando as pessoas presenciam nosso sistema de coleta de dinheiro, de alimentos, ou mesmo as enfermidades que afligem nosso corpo, em geral se sentem muito melhores. Bem, não podemos garantir, e nem podemos pensar em devolver o dinheiro aplicado em nossa causa, ele provavelmente já foi aplicado em funções que definimos carinhosamente como "nossa sobrevivência". Mas estudos provam que a maioria das pessoas que nos vêem quando passam por situações de aflição se sentem mais esperançosos com relação a suas vidas. Comentários comuns são: "Essas pessoas que tem problemas de verdade", "Tá vendo? E você fica reclamando!". Existem várias outras formas de se expressar essa percepção, sintam-se livres de criar uma nova.

Também podemos fazer vidas mais engraçadas, ou fazê-los se sentirem superiores. Vocês podem nos maltratar, rir de nossas peças de roupas extravagantes, nos mandar embora quando sentir o exótico perfume de nossa sobrevivência, nos surrar, e em alguns casos nos matar. Visto que as autoridades nem nos notam, vocês provavelmente não terão nenhum tipo de represália jurídica. De qualquer forma preferiamos que pelo menos não nos fosse privado a vida. Mas isso é da escolha de vocês, em vista de nossa baixa saúde não temos maneiras muito eficazes de defesa que não incluam a piedade de vossas senhorias.

Devemos alertá-los daqueles que sofrem quando nos vêem, bem se não tiverem dinheiro pra nos ajudarem, pedimos que façam como a maioria dos transeuntes que tem coisas mais importantes para pensar - tais como novos namorados, quem vai passar no paredão do Big Brother, ou mesmo quem vai ganhar no Brasileirão - e simplesmente não nos vejam. Somos extremamente especialistas nesse assunto de invisibilidade, não precisamos sermos vistos se não ganharmos nada nesse assunto. Portanto não se preocupe com os problemas que causamos.

Pedimos desculpas por tornarmos sua cidade mais feia, mas acreditamos que agora como nosso manifesto percebido e com nosso papel mais definido, vocês, cidadões de respeito, perceberão que o custo benefício é bem justo para ambas as partes.

Você quer saber o produto que vendemos. Bem além de propiciar toda essa satisfação sem nenhuma taxa constante, o nosso serviço consiste em vender nosso orgulho. O ultimo bem que poderiamos manter.

Mas não mantemos.