11.11.13

a longa lista de culpas do sr. um homem só

a elas,
nem tão muitas.

a todas que nunca quis,
para as que desisti,
as que quis, mas pouco,
e pra aquela que nunca vou desculpar,

perdão

perdão pelo não e pelo adeus.
perdão por eu.

descobri: é no tu que se completa o eu, mas foi no longe que me quis 
meu.

foi assim
no longe
fiz-te tua.

9.11.13

meio

No meio dos prédios, das rachaduras, dos carros e dos freios.
No meio da turba e gritaria.
Bem naquele caos todo.
No turvo, no tosco e no torpe.

Uma borboleta.

Pousa em mim por um instante e se vai.
Eu sorrio porque ouvi o que ela não falou.
"Vai ficar tudo bem".

2.8.13

torto

torto sou, aceitei.
          sucedeu, aconteceu do lado de fora. 

                  eu quis. pedi. repeti.

                       preenchia. esvaziava.
                           preenchia. esvaziava.
                               ar que entra e sai.
                                  entra e sai.
                                      entra e sai.
                                        entra e sai.

                                        característica do nada que não preenche. esvazia.
                                                     fiquei.

                                                se olhei pro lado esquerdo era porque você não estava do outro lado.
                                                       ou porque eu não estava lá. nós não estávamos.

                                                             característica do nada que não preenche. esvazia.
                                                                  fui.

                                                               me perdoa, amor. me perdoa.

                                                           tão reto, você. meus caminhos tortos fazem curva.
                                                       não existe sorriso reto, meu amor. acredite, eu tentei.

                                                 e foi a curva se completar. encontrei a ti e essa retitude.

                                        me perdoa, amor. vai, me perdoa?
                                  enverga essa sua reta, diga sim querendo o não e chora, chora no meu ombro torto, nos meus braços tortos. vou te proteger das escolhas de tudo em       mim que fez tudo em ti entortar.

                           garanto, vai preencher.

                       característica do tudo que preenche. transborda.
                     fica?

                 tira essa retidão dos lábios, me sorri torto, me beija torto, me chama torto, me chama de torto, me chama?

              diz vem, eu vou. Vou torto, mas vou.
            vem, mas vem logo. anda torto comigo, meu amor do amor que é reto.

        sou todo torto é verdade, não quero negar, não nego.
mas é em ti que meu amor é reto.

30.6.13

Por todo tempo

Os poucos andares eram suficientes para dar aquele prédio o seu valor. Era percebido por ser a maior construção no começo daquela movimentada rua. Logo depois, o supermercado com seus produtos de primeira, segunda e nenhuma utilidade, era lugar comum ao observador quando precisava saciar as necessidades das quais derivava.

Paralelo a linha das construções acontecia o movimento incessante de carros que um atrás do outro cuspiam barulho para todos os lados a todo instante durante o dia inteiro.

Era entre os carros, supermercado e prédio de poucos andares que se escondia. Era uma casa simples naquele ambiente de construções respeitadas. Tinha paredes pintadas de verde e detalhes, portas e janelas de branco. Os tons eram tão claros que denunciavam a impossibilidade daquela moradia coexistir de frente a um ambiente com o tanto de gás sujo que se desprendia dos constantes automotores.

Eras possível que aquela casa sempre estivera ali?

O trajeto era comum ao observador, mas aquele detalhe não. A paisagem tão habitual ganhava um elemento totalmente novo. Como era possível ter deixado passar despercebido aquele oásis no meio daquela ordem tão caótica?

E mais absurdo ainda, como não ter notado algo que julgava tão bonito por tanto tempo?

Pensou pouco.


Colocou a culpa no barulho dos carros, na importância do supermercado e no valor do prédio, seguiu em frente repetindo pra si mesmo: aquela construção nunca estivera ali. Era quase uma oração.

2.6.13

era adeus, quase um fica mais
era um até mais, por pouco não se vá


já foi, quase pra sempre será

28.3.13

O conto do homem das cavernas esperto


Era uma vez a pré-história. Alguém chamou desse nome uma época há muito tempo atrás, mas muito tempo mesmo, que se podia ver por aí, dinossauros, tigres dentes de sabre e homens das cavernas. Quem estuda dinossauro diz que o homem nunca viveu junto desses monstrengos, mas nessa história não é assim que acontece. Acho mais legal fingir de conta.

Nessa pré-história de faz de conta, havia um homem das cavernas muito esperto. De um dia pro outro, sem avisar pra ninguém, cismou de dar nomes pras coisas.

No primeiro dia, olhou pra um lado e pro outro, e assim, sem pensar muito, disse: "TUDO". As pessoas, que também eram homens das cavernas, porque nessa época todo mundo era homem das cavernas, ficaram admiradas com o invento da palavra. E trataram de espalhar a novidade.

Se você quiser saber como é que o homem das cavernas espalhava novidade nessa época, se não existia palavra, pergunte a quem estuda dinossauro. Eu não faço idéia. Se esqueceu que essa é uma histórinha de faz de conta? Vai que não aconteceu nada disso.

Rapidinho a moda pegou. Era TUDO pra um lado. Era TUDO pra outro. Era um monte de gente querendo saber como é que se dizia.

O homem das cavernas muito esperto ficou tão orgulhoso que no segundo dia começou a inventar mais palavras. E foi mais ou menos essa a ordem:
PEDRA, COMIDA, BICHO, PLANTA e, finalmente, HOMEM DAS CAVERNAS.

Dessa vez tiveram mais dificuldade. É que nesse tempo as pessoas não estavam acostumadas a falar as coisas. Tinha gente que conseguia mais rápido, mas tinha quem não conseguia. Como estavam todos animados, o homem das cavernas muito esperto teve outra idéia.

No terceiro dia inventou a palavra ESCOLA, junto de tantas outras novas. Nem todo mundo continuou animado. No terceiro dia, aquilo ia deixando de ser novidade. Como a moda já tinha pegado, as pessoas acharam que era feio não participar.

Os dias começaram a passar tão rápido, que até pararam de contar, cada vez mais palavras iam sendo criadas. E o TUDO, pouco a pouco, ia deixando de ser TUDO. TUDO virava MAR, que virava PRAIA, que virava AREIA, que virava CONCHA.

Um dia, um outro homem das cavernas inventor, vendo um monte de CONCHAS, teve uma idéia que achou boa. Juntou aquilo tudo com um cordão e fez um colar. Era tão bonito que todo mundo queria olhar e tocar. Como era novo mostrou pro homem das cavernas muito esperto pra saber o que era.

Ele olhou pra aquilo e disse MEU.

Guardou consigo e não deixou mais ninguém tocar, só olhar.

Foi pouco tempo depois que os homens inventariam a palavra NADA.