2.10.07

Projetos arquitetônicos inflamáveis

Um rapaz jovem atropelou uma criança pra atender celular,
O menino perdeu uma perna pra convencer os amigos que sabia nadar,
O senhor colocou fogo na casa por que não queria precisar da esposa pra cozinhar,

E naquele preciso momento fizeram todo o esforço do mundo calculando com cabeças acostumadas a sonhar maneiras que os fizessem voltar no tempo.

O rapaz jovem tentou ligar do celular pro todo poderoso,
O menino tentou nadar de costas no mesmo lugar,
E o senhor procurou um isqueiro que fosse ao contrário,

O celular não tinha crédito pra uma chamada tão distante,
E o tubarão que já tinha comido uma perna, comeu duas,

E o senhor, mais velho. Por se considerar tão sábio, chorou quando percebeu que não se fabricavam ainda isqueiros ao contrário. Ele e sua senhora tinham levado muito tempo pra prosseguir a contrução daquela casa, nem pronta ainda estava.

A sua esposa nada dizia com a boca. Mas chorava sem lágrimas e berrava com todos os outros sentidos que tivesse.

Foi uma pena pra quem visse, aquele homem com seus vários cabelos brancos chorando como um bebezão. Na verdade era até um pouco ridículo aquela prova de fraqueza. Chorava com as lágrimas que não rolavam do rosto da senhora sua esposa.

E naquele momento se espantou, a mulher chorava pra dentro e as lágrimas deslizavam pelo rosto dele. Eles iinham uma ligação do agora, ontém, amanhã e cada segundo que suplantava qualquer tijolo que estivesse fora do lugar.

O senhor percebeu que a casa estava dentro dos dois.

Pegou um dos carvões que sobrara do incêndio e desenhou uma casa. Era muito mais bonita que a de antes.

Tinha um monte de promessas que a outra não tinha. Só não era a prova de fogo.

"Quer morar aqui?"

Um comentário:

Rebeca dos Anjos disse...

"E naquele momento se espantou, a mulher chorava pra dentro e as lágrimas deslizavam pelo rosto dele. Eles tinham uma ligação do agora, ontem, amanhã e cada segundo que suplantava qualquer tijolo que estivesse fora do lugar".

Bonito.