7.4.07

Deu na Globo

Eram exatamente vinte e uma horas e dezenove minutos. Isso mesmo, em pleno horário nobre. O Boletim extraordinário tinha motivos para cometer a afronta de interromper a novela no momento que a mocinha, bonita e de família, descobria que o rapaz, seu noivo, era cara mau e o seu antigo amor, na verdade era bonzinho. Tinha que ser coisa pra lá de importante.

Era

A Globo afirmava com veemência: Deus não existia mais!

Foi um alvoroço. Gente se matando e Igreja fechando. Teve gente dizendo que a Nasa ia procurar pra ver se achava pra onde Deus tinha se metido. E os cientistas alardeavam que ninguém nunca tinha provado a inexistência de Deus.

(Ninguém deu ouvido aos cientistas.)

A Globo preocupada com a situação tentou amenizar as coisas. As pessoas com calma e em fila deveriam seguir suas recomendações, as instruções seriam dadas nos intervalos comerciais de forma a não interromper mais a programção normal. Foi um período turbulento. A emissora tentava redefinir o que era bom e o que era mau, as pessoas se amotinavam na sala pra prestar atenção, não eram tantas regras assim, mas as pessoas podiam esquecer. Por sorte a Globo era muito sábia, e passava e repassava as novas ordens de moral o tempo todo.

As intruções eram claras:

Se Insira e Consuma, mas não se insira se não for pra consumir, porque consumindo você está se inserindo, e inserindo você é consumido,

A justiça da Emissora não reconhecia limites. Reconhecendo a dificuldade daqueles tempos em diferenciar o certo do errado, e ciente da confusão que as pessoas tinham em saber o que era escolha e o que não era, Ela afirmava de meia em meia hora com um monte de imagem colorida e rápida pra ninguém poder mudar de canal:

Vocês são livres.
Apenas sigam as instruções.