17.9.05

O velho

Ele simplesmente não parava de falar...
Era uma daquelas pessoas no final de sua trajetória na Terra, que só queria a atenção. Não tinha mais muitas esperanças em vida e se prendia naquelas histórias que vivera no passado. Era chato, isso nem o menino ruivo poderia negar.

Este menino parecia ser o único que ouvia o velho. E toda aquela substancia narcotizante evidendente no falar e olhar do antigo não o faziam confundir esse fato.

Era para o menino ruivo que falava.

O menino adivinhara que aquelas histórias não eram novidades para ninguém naquele local. Mas seu coração que se pretendia de bom moço não o permitia tirar os olhos daquela figura que apenas pedia: "só quero sua atenção".

E existia algo de belo naquela criatura que se repetia. Com suas décadas evidentes nos sulcos de pele abundantes que existiam no seu rosto.

Dizia:

"Meu irmão é cobra no desenho"
"Os arquitetos vinham procurá-lo"
"Não tinha faculdade não"
"Eu sou burro, admito. Mas meu irmão não"

Não se julgava no direito de discordar, ou até acrescentar qualquer coisa nos relatos daquela criatura de idade. Eram conclusões de quem viveu muito tempo para concluir. Um, dois, três paragrágos; ou mesmo um livro não seriam argumentos para mudar aquelas opiniões construidas. O menino ruivo apenas concordava com a cabeça quando o velho repitia:

"Não estou certo?"

Na sexta ou terceira vez que falava do irmão, o menino não saberia precisar quantas vezes, o velho chorou. (o menino chorou também, mas era o choro dos meninos que prendem o choro. E por isso ninguém viu)

"Desculpa, quando falo do meu irmão eu me empolgo"

O velho continuou falando...

O menino cortou o cabelo

ouviu mais um pouco

-o velho foi embora-

o menino foi embora.

5 comentários:

ludmilesca disse...

comentário cretino de um texto belíssimo feito por alguém que admira : Cortou a betcha então né?

Anônimo disse...

nossa, pelo que vejo vc tem o dom das palavras!!! sabe como escrever, e sabe usá-las bem (isso é muito raro hoje em dia). Parabéns, continue assim!!!

Anônimo disse...

Oi kerido.. (orra, não sou só eu que te adoro aqui heim!).. to melhorzinha já, tive um sonho muito bom... bjos ;o**

Anônimo disse...

não gosto de exagerar. não vou exagerar.
ficou sublime. um de seus melhores escritos pra mim. nossa... o sentimento é quase palpável... (note q é aí o ponto em que não importam mais a forma, as palavras ou o próprio escritor) seu texto respira sozinho.
eu chorei (de novo)
amei

Anônimo disse...

bizarro!!!! ou devo dizer... CELESTIAL??????? cruzes.... q lindo... q sentimento todo é esse....

mais uma vez.... a habilidade de saber ouvir do menino ruivo ajudou alguém...
por favor... em meio a mudança inevitável, não deixe q essa característica sua tão linda desapareça, ouviu, aprendiz de momo?